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segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

GRAFFITI

© João Menéres


O GRAFFITI É DE AUTORIA DO DANIEL EIME ( Porto. 1986 ).

COMO AS ÁRVORES FORAM ENQUADRADAS POR MIM,
ESCOLHI ESTA POESIA :


A Velhice Pede Desculpas



Tão velho estou como árvore no inverno, 
vulcão sufocado, pássaro sonolento. 
Tão velho estou, de pálpebras baixas, 
acostumado apenas ao som das músicas, 
à forma das letras. 

Fere-me a luz das lâmpadas, o grito frenético 
dos provisórios dias do mundo: 
Mas há um sol eterno, eterno e brando 
e uma voz que não me canso, muito longe, de ouvir. 

Desculpai-me esta face, que se fez resignada: 
já não é a minha, mas a do tempo, 
com seus muitos episódios. 

Desculpai-me não ser bem eu: 
mas um fantasma de tudo. 
Recebereis em mim muitos mil anos, é certo, 
com suas sombras, porém, suas intermináveis sombras. 

Desculpai-me viver ainda: 
que os destroços, mesmo os da maior glória, 
são na verdade só destroços, destroços. 


( Cecília Meireles, in Poemas )

35 comentários:

  1. Muito elaborado este grafiti. A poesia arrepia.

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  2. Casamento perfeito, grafiti e poema.

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  3. O amigo João Menéres mostra aqui um trabalho muito bom e, não satisfeito, acrescenta-lhe valor, quer pela inclusão e associação da árvore, o símbolo perfeito para o tema da fotografia, quer pela chamada do poema da Cecília Meireles.
    IVA na taxa máxima para este produto de luxo!

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  4. É. Há esse lado na velhice, quer dizer, nos velhos, que a velhice em si mesma não existe. Há o lado inolvidável dos tecidos a decompor, dos órgãos que desfalecem, do cheiro próprio de tal estado, que impregna no corpo e contagia o interior das casas, entranha nos sofás, mora atrás de cada porta, dentro de cada armário, e assolapa nas peças de roupa. Há um sossego nas habitações e não parece o mesmo mundo onde houve presteza de passos e corridas, crianças, jovens e adultos afadigados de vida, bulício do respirar. A velhice tem este lado de vagar, na espera de coisa nenhuma. É o tempo da esperança no hoje, agora. Da eternidade ao momento.

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  5. Que post, JOÃO !!!

    A obra talentosa do graffiter, a que o João acentuou magnificamente o Inverno da figura !...
    Mas, na desolação total, algo ainda há de penetrante no olhar... e no ritus da boca, um grito ferozmente calado...

    A selecção do poema... Ou a perfeição em acertar no alvo !
    Sublime, este poema !... árvore de Inverno...

    Magnífico trabalho, o seu !
    Aplausos! Muitos aplausos, João !
    Beijinho grande.

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  6. Bem, tudo dito!
    Bom o grafitti, o enquadramento, a foto...
    Conhecia a Cecília Meireles nas roupagens de outros poemas não tão intensos como este. Uma surpresa!
    Parabéns!
    Beijinho

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  7. Uma foto genial e um poema tão emocionante.

    Gostei imenso e parabéns!

    Beijos

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  8. AGOSTINHO

    Fico-lhe muito grato por elogiar esta postagem.
    Sempre que o tempo ( ou a oportunidade ) permitem, procuro associar à imagem um texto ou poesia.
    Nem sempre a imagem a requer.
    No caso, pareceu-me que uma poesia ia enfatizar o belo trabalho do autor do graffiti.

    Obrigado, também, por me taxar com o IVA no seu valor máximo.

    Um abraço.

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  9. BEA

    Muito te agradeço a divagação sobre a VELHICE.
    Um belo texto que apreciei.

    Um beijo.

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  10. MARIA MANUELA

    Pena tenho eu que nem todos possuam essa tua sensibilidade e/ou a paciência de a demonstrarem...
    Claro que se fosse Primavera ou Verão, nada seria igual.

    Um beijo muito agradecido pelo teu elogio que veio de lá do fundo.

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  11. GRAÇA

    Também não tenho muito mais a dizer ao que acentuaste...
    Gostei muito da tua atenção.
    Que bom ter-te levado a conhecer uma poesia mais da Cecília !


    Um beijo muito grato.

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  12. FATYLY

    Nessa tardem, disparei três vezes,
    Duas já cá estão.
    Falta a terceira que é bem diferente.
    Apenas un apontamento.

    Agradeço as tuas palavras estimulantes.
    Um beijo amigo.

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  13. A imagem está MARAVILHOSA!
    Enraizaram-se no rosto os braços sem folhas
    e
    no passeio da vida, abriram-se os olhos caídos
    na esperança do vento passar!

    Porque escolhes tão triste fado?
    Sim, falo daquele supra cantado,
    que de sábias palavras encheu a mesa
    num fado rítmico, improvisado!


    Valeu! Valeu pela cor e pelo sabor sentido em estar aqui
    Bjnhs

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  14. ah!
    A Velhice não tem NUNCA que pedir desculpa!
    Bjnhs

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  15. LUÍSA

    É tarde..
    A noite avança.
    Assim é a vida
    À espera de ter fim.

    Muito bonito o que escreves, SENHORA das palavras maravilhosas !
    Obrigado por ter UM OLHAR DE PERTO que alcança longe !

    Um beijo.

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  16. O poema é belíssimo e forte, muito forte - não conhecia.
    A minha respiração ficou um bocado suspensa, até...Reli várias vezes, pois gostei muito.
    O graffiti também muito expressivo e o enquadramento pelas árvores (que se confundem com as marcas no rosto), perfeito.
    Beijinho forte e muito grato por esta maravilhosa postagem, João.

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  17. SANDRA

    MUITO OBRIGADO pelas tuas palavras que revelam a sensibilidade que já em ti conhecia.
    Procurei que os ramos das árvores sem folhas se sobrepusessem sobre o rosto sem o prejudicar, apenas para as acentuar.

    Um beijo, querida Sandra.

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  18. Árvores?
    As árvores foram enquadradas por si?
    Pelas tonalidades das árvores, eu ia jurar que elas faziam parte do grafíti e que tinham sido desenhadas pelo artista. Mas afinal...
    :-):-)

    Muito bom. Muito bem desenhado.

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  19. REMUS

    Só não foram plantadas por mim...
    :-P

    Obrigado, REMUS.

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  20. Como já alguém disse, o verdadeiro mal da velhice, não é o enfraquecimento do corpo... mas a indiferença da alma.
    Curiosamente, nos dias que correm... encontro deste frequente padecimento, em muita gente jovem... a indiferença da alma! Algo de que o João de todo não padece... pelo que para mim... é, será sempre, um teenager!...
    A imagem não poderia ter um melhor enquadramento!
    Espero que o problema do Blogger se resolva!
    Beijinhos! Continuação de boa semana!
    Ana

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  21. Se a imagem é assombrosa do ponto de vista artístico, o poema é um hino ao pensamento humano depois de muitos anos de vida.
    Mas se todos se consciencializassem que é assim sempre, haveria por parte dos mais novos uma dupla ternura por tudo o que é mais velho, ou menos novo, não esquecendo que as posições serão por todos ocupadas com o passar dos anos.
    Beijinho e abraço amigo

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  22. ANA FREIRE

    Um teenager ?
    - Nem tanto !... ( mas não me importava mesmo !...).

    Infelizmente o técnico ( meu amigo ) está sobrecarregado de trabalho e hoje não pôde dar-me apoio remoto.
    Veremos se amanhã até à noite tal será possível.

    Um beijo, querida Ana e obrigado pelo comentário e pelos votos expressos.

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  23. TÉTÉ

    Tenho conhecido muitos e muitos casos. Uns, respeitam e tem ternura para com os mais idosos.
    Outros, quase os ignoram...
    Deste último grupo, posso dizer que nem lhes passa pela cabeça que amanhã são eles a sentirem na alma e no real !

    Um beijo grato.

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  24. Excelente escolha do poema para combinação com a imagem!

    Abraço

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  25. RUI PIRES

    Agradeço a sua opinião.

    O problema está resolvido !

    Um abraço.

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  26. LUÍSA

    Obrigado, querida amiga.
    Claro que sim !

    Um beijo também assim.

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  27. O poema é lindo. Gosto muito da CM.
    O graffiti é fantástico bem como a foto.
    Beijinho.:))

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  28. ANA

    Obrigado por tudo quanto exprimes.

    Um beijo amigo.

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  29. ... pedindo desculpas quando deveria ser o inverso ... quando deveria ser florido de agradecimento pelo tempo de experiências partilhadas ... de perspectivas com horizonte ... enfim o privilégio de ... com tais se escutar os ecos do passado ... que serão futuro ...

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  30. RASURAS

    Alto lá !
    Tenho que reler...

    Eu bem insisti consigo : CRIE O SEU PRÓPRIO BLOG, HOMEM !
    E é suficiente ( e ficaremos muito agradecidos ! ) para nos dar algo de si.
    De quando em vez, insisto...

    Um enorme e muito amigo abraço.

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  31. Graças a Deus que cada vez mais vemos graffitis como verdadeiras obras de arte.

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  32. É uma bela obra, o grafiti de Daniel Eime. E o poema recorda-nos que a vida é um percurso com princípio, meio e fim.
    Um abraço, João Menéres.

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