© João Menéres
GAZEL DA FUGA
Muitas vezes me perdi no mar,
Os ouvidos cheios de flores recém-cortadas,
a língua cheia de amor e agonia !
Muitas vezes me perdi no mar,
como no coração de alguns meninos.
Não há noite que, ao dar um beijo,
não sinta o sorriso da gente sem rosto,
não há ninguém que, ao tocar um recém-nascido,
esqueça as imóveis caveiras de cavalos.
Porque as rosas buscam em cada fronte
uma endurecida paisagem de osso
e as mãos do homem não têm mais sentido
do que imitar raízes debaixo da terra.
Como no coração de alguns meninos,
muitas vezes me perdi no mar.
Ignorante da água, vou procurando
uma morte de luz que me consuma.
( Federico Garcia Lorca )