Nem só no mar se navega, também
Nem só no mar se navega, também
nas sombras e nos charcos da cidade inacabada
e já ruína
um homem se exalta e entristece
com as ondas precárias dos seus irmãos
nascendo e caindo na foz
quotidiana. Nem só no mar,
onde vivi outro rumor, nem só no mar,
onde vivi outro rumor, nem só no sal
que me lembra
que me lembra
o sabor do peixe antigo,
um homem naufraga. Também
nas casas velhas e nas rugas cansadas
as formigas imperceptíveis da morte
cumprem o seu destino. Inclino-me
sob o vento
e defendo a natureza da minha
voz: vegetação
tão vária, tão paciente
como as ondas do mar da foz.
(Casimiro de Brito, 1938 , in Fragmentos III)