© João Menéres
A DOMUS MUNICIPALIS
© João Menéres
O CASTELO
ESTA POSTAGEM ESTÁ
A PEDIR UM TEXTINHO !
MAS EU ESTOU MUITO SEM TEMPO
E O EXPRESSO DA LINHA
FOI A BANHOS !...
EIS O MAGNÍFICO
TEXTO QUE O
JORGE PINHEIRO
AMÁVEL E PRONTAMENTE
ME ENVIOU :
BRAGANÇA
– ONDE PORTUGAL COMEÇA
Era
um carro antigo. Um velho Simca Aronde. Saímos cedo. Pernoitávamos
no Luso ou na Curia. Eram dois dias para atingir a capital do
Nordeste Transmontano. Pelo caminho comia muito bacalhau cru para não
enjoar entre as 700 curvas do Pocinho. A Foz Côa. Os meus pais
insistiam em passar férias em Bragança. Lá estavam avós, bisavós,
tios e primas. Eu, francamente, ia amuado, contrariado. Deixava a
praia, a Linha de Cascais, para me meter naquele inferno de 43º à
sombra, com burros estacionados nas esquinas e moscas pegajosas
tentando escapar ao calor na pele suada dos transeuntes. Abundavam
presuntos e alheiras e a sirene dos bombeiros berrava o dia todo a
caminho dos incêndios de Bornes ou Montesinho. Eu passeava pelas
ruas, nas minhas pernas magritas de calções caqui. Era mostrado
como um troféu no velho Café Leão, ali na Praça da Sé. O meu avô
Domingos era uma personagem incontornável. No seu bigode fininho de
militar, era conhecido por “Capitão Sagres”. Levava-me a todo o
lado no jipe da GNR de que era comandante. Percorríamos a fronteira.
Entrávamos por Espanha sempre que nos apetecia comprar caramelos. A
intimidade com os espanhóis é aqui total. A proximidade e a Guerra
Civil de Espanha traçaram cumplicidades, nem sempre saudáveis. Os
banhos no rio Sabor não tinham pé e a água gelada deu-me sinusite
para a vida toda. Lá em cima ficava o castelo, um dos mais bem
preservados do país, com a sua altiva torre de menagem e a Torre da
Princesa, com uma lenda que mudava consoante o interlocutor. Bragança
é terra de Celtas, de uma tribo Galaica, uma terra que foi dominada
pelos Romanos e invadida pelos Visigodos. Os Mouros não conseguiram
estabelecer-se por conta própria e andaram 50 anos a levar na
tromba, antes de terem percebido que não valia a pena insistir.
Foram os leoneses que tomaram conta disto. A independência veio com
naturalidade, logo nos tempos de Afonso Henriques. Bragança sempre
foi terra de atravessamento. Guerras com Espanha, invasões
francesas, lutas liberais, revolução cartistas, tudo passou por
aqui. A população foi enriquecida com os judeus em fuga do Reis
Católicos e será rara a família que não tem sangue “marrano”.
No Inverno neva, mas os lobos são agora protegidos. A vida nocturna
é, agora, intensa. E Bragança já está no mapa. Curiosamente
gostava de voltar a fazer aquelas curvas no velho Simca. Voltar a
enjoar na subida para Torre de Moncorvo e passar tardes a apanhar
moscas na sombra das figueiras do quintal.
Jorge
Pinheiro