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sexta-feira, 29 de junho de 2012

BRAGANÇA


 © João Menéres


A DOMUS MUNICIPALIS

 © João Menéres


O CASTELO


ESTA POSTAGEM ESTÁ 
A PEDIR UM TEXTINHO !

MAS EU ESTOU MUITO SEM TEMPO
E O EXPRESSO DA LINHA
FOI A BANHOS !...


EIS O MAGNÍFICO
TEXTO QUE O
JORGE PINHEIRO
AMÁVEL E PRONTAMENTE 
ME ENVIOU :


BRAGANÇA – ONDE PORTUGAL COMEÇA


Era um carro antigo. Um velho Simca Aronde. Saímos cedo. Pernoitávamos no Luso ou na Curia. Eram dois dias para atingir a capital do Nordeste Transmontano. Pelo caminho comia muito bacalhau cru para não enjoar entre as 700 curvas do Pocinho. A Foz Côa. Os meus pais insistiam em passar férias em Bragança. Lá estavam avós, bisavós, tios e primas. Eu, francamente, ia amuado, contrariado. Deixava a praia, a Linha de Cascais, para me meter naquele inferno de 43º à sombra, com burros estacionados nas esquinas e moscas pegajosas tentando escapar ao calor na pele suada dos transeuntes. Abundavam presuntos e alheiras e a sirene dos bombeiros berrava o dia todo a caminho dos incêndios de Bornes ou Montesinho. Eu passeava pelas ruas, nas minhas pernas magritas de calções caqui. Era mostrado como um troféu no velho Café Leão, ali na Praça da Sé. O meu avô Domingos era uma personagem incontornável. No seu bigode fininho de militar, era conhecido por “Capitão Sagres”. Levava-me a todo o lado no jipe da GNR de que era comandante. Percorríamos a fronteira. Entrávamos por Espanha sempre que nos apetecia comprar caramelos. A intimidade com os espanhóis é aqui total. A proximidade e a Guerra Civil de Espanha traçaram cumplicidades, nem sempre saudáveis. Os banhos no rio Sabor não tinham pé e a água gelada deu-me sinusite para a vida toda. Lá em cima ficava o castelo, um dos mais bem preservados do país, com a sua altiva torre de menagem e a Torre da Princesa, com uma lenda que mudava consoante o interlocutor. Bragança é terra de Celtas, de uma tribo Galaica, uma terra que foi dominada pelos Romanos e invadida pelos Visigodos. Os Mouros não conseguiram estabelecer-se por conta própria e andaram 50 anos a levar na tromba, antes de terem percebido que não valia a pena insistir. Foram os leoneses que tomaram conta disto. A independência veio com naturalidade, logo nos tempos de Afonso Henriques. Bragança sempre foi terra de atravessamento. Guerras com Espanha, invasões francesas, lutas liberais, revolução cartistas, tudo passou por aqui. A população foi enriquecida com os judeus em fuga do Reis Católicos e será rara a família que não tem sangue “marrano”. No Inverno neva, mas os lobos são agora protegidos. A vida nocturna é, agora, intensa. E Bragança já está no mapa. Curiosamente gostava de voltar a fazer aquelas curvas no velho Simca. Voltar a enjoar na subida para Torre de Moncorvo e passar tardes a apanhar moscas na sombra das figueiras do quintal.

Jorge Pinheiro