© Jorge Pinheiro
SONETO
AMOR DESTA TARDE QUE ARREFECEU
AS MÃOS E OS OLHOS QUE TE DEI;
AMOR EXACTO, VIVO, DESENHADO
A FOGO, ONDE EU PRÓPRIO ME QUEIMEI;
AMOR QUE ME DESTRÓI E DESTRUIU
A FRIA ARQUITECTURA DESTA TARDE
- SÓ A TI CANTO, QUE NEM EU JÁ SEI
OUTRA FORMA DE SER E DE ENCONTRAR-ME.
SÓ A TI CANTO QUE NÃO HÁ RAZÃO
PARA O FRIO QUE ME QUEIMA OS OLHOS
ME TRESPASSE E ME SUBA AO CORAÇÃO;
SÓ A TI CANTO, QUE NÃO HÁ DESASTRE
DE ONDE NÃO POSSA AINDA ERGUER-ME
PARA ENCONTRAR DE NOVO A TUA FACE.
( Eugénio de Andrade, in Os Amantes sem dinheiro )