© João Menéres
VARAIS NA SERRA DO MARÃO
Junto a um ribeiro, na Serra do Marão (Trás-os-Montes),
as mulheres aproveitam o Sol do Inverno
para estender a roupa, depois de lavada e torcida.
Por cima de pedras que estão a jeito
ou por algum arame que por aí haja.
E, agora, ouçam o que Miguel Torga escreveu:
REGRESSO
Regresso às fragas de onde me roubaram.
Ah! minha serra, minha dura infância !
Como os rijos carvalhos me acenaram,
Mal eu surgi, cansado, na distância !
Cantava cada fonte à sua porta:
O poeta voltou!
Atrás ia ficando a terra morta
Dos versos que o desterro esfarelou.
Depois o céu abriu-se num sorriso,
E eu deitei-me no colo dos penedos
A contar aventuras e segredos
Aos deuses do meu velho paraíso.
Embora esta poesia se reporte ao regresso do próprio
Miguel Torga à sua aldeia de S. Martinho de Anta e
aos sítios da sua eleição enquanto jovem,
não resisti à tentação de, numa metáfora,
personificar as roupas que todos os dias são levadas
aos ribeiros, por caminhos que por fontes passam,
espreguiçadas em penedos (ou fragas), onde
tagarelam entre si, e logo, antes do sol se deitar,
são novamente levadas de volta às suas telhas.