© João Menéres
TALVEZ SEJA OPORTUNO REFLECTIR,
JÁ QUE AQUI CHEGAMOS...
NÃO TENHO PRESSA
Não tenho pressa. Pressa de quê?
Não têm pressa o sol e a lua : estão certos.
Ter pressa é crer que a gente passa adiante das pernas,
Ou que, dando um pulo, salta por cima da sombra.
Não; não sei ter pressa.
Se estendo o braço, chego exactamente aonde
onde o meu braço chega -
Nem um centímetro mais longe.
Toco só onde toco, não aonde penso.
Só me posso sentar aonde estou.
E isto faz rir como todas as verdades absolutamente verdadeiras,
Mas o que faz rir a valer é nós pensarmos sempre noutra coisa,
E vivemos vadios da nossa realidade.
E estamos sempre fora dela porque estamos aqui.
( Alberto Caeiro, in Poemas Inconjuntos )