© João Menéres
DE RELANCE, O ALENTEJO
Um céu abafadiço, um ar de ausência
esperando nuvens imóveis no céu abaixo.
A terra, já das ceifas recolhida,
alonga-se manchada a flores tardias,
roxas, vermelhas, amarelas, brancas,
como penugem de esquecida Primavera.
Por entre os campos, os cordões rugosos
dos caminhos para toda a parte,
menos para os campos, que pacientemente evitam.
Na linha do horizonte próxima ou distante
conforme as ténues cristas da planura imensa,
um claror de céu, um tufo de arvoredo,
alternadamente se tocam e se afastam.
De súbito, num alto que a planície esconde,
as casas surgem brancas e compactas.
Como surgem, mergulham
na sombra poeirenta de azinhagas em ruínas.
Ainda se demora uma torre antiga,
escura, com ameias e janelas novas,
caiadas.
Um rio se adivinha. Mas, de ao pé da ponte,
de novo apenas o ondular da terra,
um crespo recordar só de searas idas.
(Jorge de Sena, Lisboa 1919 / California 1978 )