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sábado, 17 de abril de 2021

A CAPELA DOS ALFAIATES

© João Menéres



Desde o início do século XVI que a Irmandade dos Alfaiates do Porto venerava como padroeiros e protectores São Bom Homem e Nossa Senhora de Agosto. Não tendo capela própria, a confraria iniciou em 1554-1555 a construção de um templo dedicado à Virgem em espaço fronteiro à Sé, cedido pelo bispo D. Rodrigo Pinheiro. A morosidade das obras durante os dez anos que se seguiram levou a que a irmandade contratasse, cerca de 1566, o mestre pedreiro Manuel Luís, que iria terminar o projecto, imprimindo-lhe o seu traço pessoal (SERRÃO, 2001, p. 199).
Em 1934, a Câmara do Porto elaborou uma proposta de urbanização do Largo da Sé, que implicava a demolição da Capela dos Alfaiates, classificada como Monumento Nacional desde 1927. Para evitar a destruição do templo maneirista, a estrutura foi desmantelada em 1936 pela Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais, sendo reconstruída na sua actual localização em 1953.
De planta rectangular, a capela é precedida por adro limitado por guarda de ferro. Na fachada principal rasga-se ao centro o portal de gosto maneirista, com arco de volta perfeita ladeado por colunas estriadas, encimado por entablamento, sobre o qual foi aberto um nicho que alberga a imagem, em barro, de Nossa Senhora de Agosto. Acima deste conjunto foi aberta uma grande janela com grade de ferro. As fachadas laterais, despojadas de qualquer elemento decorativo, possuem apenas uma janela insculpida no registo superior.
O interior, recriando numa escala regional o modelo maneirista dos espaços unitários, de cariz erudito e vanguardista, possui nave única coberta por abóbada abatida de cruzaria, em granito. Um amplo arco triunfal, ladeado por pilastras jónicas, abre para a capela-mor, espaço revestido por abóbada de canhão em cantaria, com caixotões decorados com rosetas.
Ao centro, o retábulo de talha dourada de linhas maneiristas é composto por um conjunto de oito tábuas com episódios da vida da Virgem e do Menino, nomeadamente, no primeiro registo e à esquerda, a Anunciação, à qual se opõe a Adoração dos Pastores, a que seguem, no segundo registo a Adoração dos Reis Magos, a Assunção da Virgem e o Menino entre os Doutores. O remate da estrutura é feito pela Coroação da Virgem, ladeada pela Visitação e pela Fuga para o Egipto. Este conjunto retabular é atribuído ao pintor Francisco Correia e seus colaboradores, tendo sido executado entre 1590 e 1600 (Idem, ibidem, p. 243). Um nicho alberga uma imagem calcária da padroeira, de gosto flamengo.

Catarina Oliveira
DIDA/ IGESPAR, I.P./ Fevereiro de 2011