VASOS COMUNICANTES
é um livro de Poesia.
Mas não é um simples livro de Poesia.
É o Diálogo Poético
entre o tio e a sobrinha.
E, como escreveu Maria Teresa Dias Furtado no prefácio,
" é a celebração do encontro e da palavra,
da proximidade na diversidade, do entendimento poético
e humano, dos gestos de amizade que
intensificam o sentido e o fluir do tempo."
Desse diálogo, aqui reproduzo as
páginas 54 e 55.
Para ilustrar, escolhi uma imagem
de um rio do Norte.
O seu leito é uma ilha.
as suas margens são um corpo
donde nascem as árvores.
Que os Poetas me desculpem o atrevimento.
Tu nasceste para viver numa ilha
e vives numa ilha deste mundo
O fruto que tu comes é obscuro ou verde
é o fruto de uma árvore
e no sabor da tua língua se dissolve
Tu bebes com os olhos da tua sede
tu és um sol que tem sede
e respira como uma árvore
e dormes na adolescência do teu nome
numa terra que tem as linhas de uma mão aberta
e o silêncio meditativo das tuas pálpebras.
António Ramos Rosa
O meu corpo é uma ilha
em torno de um jardim de água
de onde bebo o fruto das palavras o sabor do mundo
escutando os sons e as cores
vibrando com a leve gravidade das aves
reinventando vozes e paisagens
o meu corpo é uma ínsula de um continente antigo
que tem sede de outras ilhas grãos do mesmo corpo
e respira a saudade na distância do mar
as árvores vivem no sonho desse corpo
e respiram a remota adolescência do mundo
desejando o vento e a flor do sol
o meu corpo é o exílio que tem sede
das fontes que inundam a matéria
e no silêncio busca a nascente
onde o fruto da língua se recria
Gisela Ramos Rosa