© João Menéres
POEMA DAS ÁRVORES
As árvores crescem sós. E a sós florescem.
Começam por ser nada. Pouco a pouco
se levantam do chão, se alteiam palmo a palmo.
Crescendo deitam ramos, e os ramos outros ramos,
e deles nascem folhas, e as folhas multiplicam-se.
Depois, por entre as folhas, vão-se esboçando as flores,
e então crescem as flores, e as flores produzem frutos,
e os frutos dão sementes,
e as sementes preparam novas árvores.
E tudo sempre a sós, a sós consigo mesmas.
Sem verem, sem ouvirem, sem falarem.
Sós.
De dia e de noite.
Sempre sós.
Os animais são outra coisa.
Contactam-se, penetram-se, trespassam-se,
fazem amor e ódio, e vão à vida
como se nada fosse..
As árvores, não.
Solitárias, as árvores,
exauram terra e sol silenciosamente.
Não pensam, não suspiram, não se queixam.
Estendem os braços como se implorassem;
com o vento soltam ais como se suspirassem;
e gemem, mas a queixa não é sua.
Sós, sempre sós.
Nas planícies, nos montes, nas florestas,
a crescer e a florir sem consciência.
Virtude vegetal viver a sós
e entretanto dar flores.
(António Gedeão . Lisboa 1906-1997)
Lindo e sugestivo..."viver a sós e entretanto dar flores"!
ResponderEliminarUm grande abraço.
já ganhei o meu dia ao ler poema tão fantástico... também me interrogo, muitas vezes, o que será ser àrvore e assistir ao bom e ao mau que se desenrola em volta dela...
ResponderEliminarxi
maria de são pedro
Muito boa imagem! Rara!
ResponderEliminarLindo poema de António Gedeão!
ResponderEliminarAbraço, Susana
lindo tudo!!um forte abraço, myra
ResponderEliminarLindo lindo lindo!
ResponderEliminarBeijo com flores.
MARIA AUGUSTA
ResponderEliminarEssa virtide foi exactamente a que me levou a escolher es poema do Gedeão para esta imagem.
Uma destas árvires (vidoeiros) deixou que se desprendesse um pingo de gelo na minha cabeça desprotegida. Confesso que, vindo lá das alturas, até me assustou. Foi então que pensei que tinham vida...
Um beijo.
LUA DE LOBOS
ResponderEliminarHá tempos que se não fazia um comentário aqui no grifo...
É preciso mais Gedeão?
Um beijo.
SUSANA
ResponderEliminarO Gedeão por certo agradeceria...
Beijo.
MYRA
ResponderEliminarUma vez mais posso contar com o teu elogio (que o tomo por inteiro por ter sido eu também a escolher este poema).
Fico muito feliz por esta simbiose merecer palavras tão positivas.
Um beijo.
EDUARDO
ResponderEliminarMil desculpas por ter saltado.
Não sei se é rara. Mas, pelo menos, considero uma muito boa imagem.
Grande e fraterno abraço.
TINTA AZUL
ResponderEliminarTu tens a arte de sempre me emocionares ou comoveres...
Um beijo florido.
O poema é lindo como os que Gedeão escreveu, mas se não visse o título, nunca compreenderia que são árvores.
ResponderEliminarMas isso é a minha ignorância de fotografia ou a minha inata "disability" para a arte abstracta.
Um abraço
Jorge
JORGE C. REIS
ResponderEliminarPeço desculpa mas esta imagem não tem ABSOLUTAMENTE NADA DE ABSTRACTO !
É na Serra do Alvão num dia de nevoeiro serrado e 1º negativo de temperatura.
Além do mais eu não sei manipular imagens para lhes dar uma força que elas sem isso não teriam, pode crer.
Sempre que tento fazer qualquer coisa, é certo e sabido que dou cabo do original.
Passou-se isso, por exemplo, há pouco tempo com a de Lomba de Arões...
Tudo o que mostro aqui foi obtido quando do disparo (á excepção da minha participação na Tertúlia sobre o tema FOGO.
Desculpe desiludi-lo...
Um abraço e obrigado pela oportunidade que me deu de esclarecer, eventualmente, outros blogueiros amigos.
Eu consigo ver bem as árvores, verdadeiros vultos de porte, fortes e praticamente com vida própria, por causa da sua fotografia João!
ResponderEliminarALICE
ResponderEliminarObrigado pela tua visita e respectivo comentário.
Ainda bem que gostaste.
Veremos se há mais manifestações de agrado...
Um beijo entre o nevoeiro.
João
ResponderEliminarNão leve a mal o meu comentário, por favor.
Quando me referi a "arte abstracta" não queria dizer que tivesse alguma coisa a ver com "manipular" por software (eu chamar-lhe-ia "melhorar").
Nem o facto de alguém "tratar" as suas próprias fotos com programas de tratamento de imagem é para mim algo de impuro ou obsceno (rs).
Acho que o resultado final é que conta e, para o conseguir, o artista executa um trabalho que, na fotografia, irá desde o momento do enquadramento visual ao da publicação ou impressão.
Por outro lado, o conceito de belo tem muito de subjectividade própria, do artista e de quem admira a obra.
Eu, por exemplo, não gosto de Picasso, de Manoel de Oliveira, de Saramago. E no entanto eles não deixam de ser considerados "grandes artistas", cada um no seu campo.
O que eu disse, e repito, é que se não fosse o título, não descortinaria quaisquer árvores na imagem. Inaptidão minha, provavelmente.
Mas agora, com a sua explicação sobre as condições do momento do disparo (e com o título do post), fiquei esclarecido: são árvores fotografadas em dia de nevoeiro.
Um abraço
JORGE C. REIS
ResponderEliminarMuito agradecido e sensibilizado com a preocupação da sua explicação.
Ainda bem que com o título do post sabe que são árvores.
Tudo óptimo, quando há franqueza.
Grande e amigo abraço.
João, conjunto bonito. Eu queria andar no meio desses troncos passando por penumbra na escuridão :)
ResponderEliminarum espanto essa foto? ou tela? não consigo distinguir rsssss sinal que ficou mto bem tirada.
beijinho
Talvez das uma das melhores fotos que tenho visto sobre árvores!
ResponderEliminarTudo muito lindo João.
ResponderEliminarMaravilhoso o poema.
Bjs.
Sandra.
Quanto amanhã,que você mencionou no meu blog, só Deus lhe pertence. Nós tentamos e muito, mas, o tempo é quem mostrará. E ele, está em nossas mãos. Não podemos deixar morrer o que nos cerca.
Valeu Amigo.
Obrigada da visita.
ELLEN
ResponderEliminarOriginalmente é uma transparência a cores 6 x 7 cm.
Posteriormente foi impressa sobre tela e assim vendida.
Muito obrigado pelas tuas palavras sempre amigas.
Um beijo.
EXPRESSODALINHA
ResponderEliminarNão imagina quanto as suas palavras me alegraram...
E, daí , talvez calcule.
Um abraço.
SANDRA
ResponderEliminarObrigado pelo teu comentário,
Ao querer colocar o teu blog naqueles que mostram a actualização, fiz qualquer coisa de errado e todos os que EU RECOMENDO foram pelo fio abaixo.
Agora tenhoque fazer uma cuidada análise para tentar repor os que lá estavam.
Acidentes de quem gosta (mas não sabe) de inovar...
Sempre belíssimas as suas fotos, vc tem a modernidade no momento do clicar, já é uma caracterítica, um estilo.
ResponderEliminarMaravilhosas essas ávores, que instante sublime e o poema... emocionante. Escolheu muito bem, parabéns pela foto e escolha de António Gedeão.
Beijos
ELMA CARNEIRO
ResponderEliminarEstas palavras todas escritas por ti têm um valor incalculável.
Sabes, às vezes passa-se uma semana ou até mais sem pegar em qualquer máquina.
De repente, dá-me qualquer coisinha e TENHO que sair para fotografar (normalmente programo de véspera, pois estas coisas apresentam sintomas...).
Elma, repito, estou muito grato por teres dito tudo o que acima li.
Há uma coisa que não vou esquecer jamais :
>a modernidade no momento do clicar<
(Vou dizer-te uma coisa: em relação à Cidade do Porto, já ALGUÉM disse que eu era o último artista fotógrafo poeta...
Mas, no que ao resto se refere, eu acho que tu não estás muito longe da verdade...
E olha que tenho uma digital vulgar de lineu - não é compacta, claro - sem objectivas especiais. Uma é de plástico e nenhuma é estabilizadora.
Nas analógicas tenho tudo que é bom, mas agora está tudo ± arrumado.)
Grande beijo.
Tênue nuvem difuza que vela as árvores. Suave...
ResponderEliminarLINA FARIA
ResponderEliminarConsidero o teu comentário um elogio nada difuso.
Um beijo agradecido.
As árvores nunca estão sós...Há um solo que as sutenta e lhes dá vida, um sol que as chama a florir e uma chuva que de quando em vez as brinda!
ResponderEliminarAs árvores estarão apenas desamparadas pelo nosso ignóbil olhar...Quando percebermos que temos que valorizar o que nos alimenta a vida, jamais viveremos sós!
António Gedeão gostava das árvores! Amava todo a natureza e pintava-a com as mais bonitas cores da sua paleta de palavras!
Este poema foi uma chamada de atençaõ...
É o meu olharde perto sobre ele!
Beijinho terno!
António Gedeão, sempre!
LUÍSA
ResponderEliminarMais uma lufada de ar fresco a realçar uma gélida manhã (que maia parecia querer ser noite) num sítio encantado como é este no Parque Natural do Alvão no meio de umas árvores que eu gosto muito: os vidoeiros ou bétulas.
Em Outubro estão de uma beleza inexcedível, com as suas folhas a passar do verde suave para o amarelo e daí até cobrirem o chão com uma alcatifa fofa é um momento.
Continuo a apreciar os teus comentários (que já não dispenso).
Um beijo.
Imagem intrigante e maravilhosa!!!
ResponderEliminarO poema é divino:"Virtude vegetal viver a sós
e entretanto dar flores."
A perfeição!!!
Beijos floridos!Sonia Regina.
SONIA REGINA
ResponderEliminarMais uma vez tenho o grato prazer do teu comentário que me enche de júbilo.
Continuarei a tentar de vez em quando em editar uma imagem e acompanhá-la de um poema ou de um texto.
Como edito muitas imagens que são essencialmente documentais não se proporconam muito a essas simbioses.
Os teus beijos além de floridos vieram perfumados.
Gosto muito de António Gedeão...(já to tinha dito), gosto muito deste seu poema sobre as árvores e da sua antológica estrofe final...e amei esta fotografia que parece dizer. "uma poesia também se escreve sem palavras..."
ResponderEliminarL.REIS
ResponderEliminarTenho que pensar bem (ando com falta de tempo para o efeito) para ter mais duas ou três imagens para as ancorar no Gedeão.
Vamos a ver quando surge a oportunidade...
Um beijo sem palavras...